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Bound - Análise

Abstracta emoção.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Sempre disposto a provocar sensações e emoções, Bound utiliza a linguagem visual artística para comunicar com o jogador.

Bound pode ser descrito de uma forma bastante simples: é um jogo de plataformas com um estilo visual vanguardista. No entanto, também poderia ser descrito de outra forma. Poderia ser apresentado como uma experiência artística interactiva, o próprio estúdio responsável por ele, o Plastic, refere que podem facilmente olhar para Bound como um desses controversos "não-jogo". Graças à maturidade da indústria, começaram a surgir com maior frequência e existe um público ávido pelas emoções e sensações que conseguem despoletar, assimilando na perfeição os seus objectivos e quais as possíveis fragilidades de que será alvo quando questionado se será mesmo um jogo.

Numa indústria na qual existe um público à espera de uma maior variedade de experiências, o Plastic procurou fazer do impacto visual o grande trunfo de Bound, servindo como o principal meio para desenrolar uma peça artística de belo efeito. Pessoalmente, diria que Bound é melhor descrito como uma experiência interactiva em que o jogador não seguirá muitos dos moldes tradicionais e típicos de um videojogo mas estará na mesma interessado em ler as mensagens que os cenários procuram contar. Bound é um daqueles jogos que apenas cativará alguns mas quem se atrever a seguir esta jornada, sairá recompensado.

Basta ver um trailer do jogo para perceber de que forma os cenários em constante movimento e graciosidade conseguem transmitir uma mensagem ao jogador. Não só pelas suas cores mas também pela forma como interagimos com eles, sempre procurando uma forma de surpreender o jogador. O mundo de Bound é o seu maior trunfo e o maior suporte para a narrativa. Depois de feito o convite, será quase impossível recusar a entrada neste belo mundo de esplendor artístico. Bound é um daqueles títulos para os que querem algo mais, para os que querem enriquecer o seu catálogo com experiências diferentes e envolventes.

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"Bound é um daqueles títulos para os que gritam 'sempre arroz' quando vêm um AAA"

Um dos principais elementos de Bound é mesmo esse estilo visual vanguardista que o Plastic refere. Facilmente, após cinco minutos de jogo, pensam que apesar de tudo parecer tão simples e até básico, jamais este jogo seria possível numa anterior geração de consolas. Pelo menos com esta qualidade não. A capacidade das novas máquinas permitirem que os criativos sonhem e transformem esse sonho numa experiência com a qual todos nós podemos interagir, é definitivamente de louvar. Mas a glorificação visual de Bound vai além do inteligente manusear de cores ou pela tentativa de transmitir sentimentos através das suas arquitecturas, está em tudo o que existe ao nosso redor e com o qual não vamos interagir.

Bound é uma experiência sobre emoções, na qual o gameplay é básico e pretende que a narrativa e os visuais sejam os mecanismos principais para entregar a sua mensagem. É através dos sons e dos visuais que comunicamos principalmente com este mundo. No entanto, nada em Bound é fixo ou definitivo. Os cenários estão em constante transformação, em movimento para tornar o nosso percurso mais interessante. Ao longo de cada nível, as construções mudam de cor ou de forma, caminhos formam-se do nada e acima de tudo, existe um manipular da realidade que não seria possível a não ser num título como este. Um título em que os criativos tiveram a ousadia de materializar um sonho e deixar para trás quaisquer intenções em simular a realidade.

Controlando uma jovem rapariga que encontrou no ballet e na música sua terapia para lidar com o mundo, Bound é um jogo sobre laços e a forma como os criamos com o nosso mundo. Nós somos um reflexo do mundo em que vivemos e muitos podem considerar que estabelecem laços de diferentes formas ou feitios. Muitos de nós podem não se identificar com a história aqui contada mas existe uma adorável mensagem, mesmo que na maioria do tempo seja dramática. Bound tenta comunicar com o jogador em diferentes tons mas acima de tudo tenta explicar que o mundo também é um reflexo da forma como nós o vemos, por isso está em constante alteração.

Esta jovem bailarina terá que percorrer os cenários saltando com a delicadeza das melhores praticantes de ballet, dançará para afastar de si as emoções mais pesadas e dramáticas, e terá que percorrer com incrível simplicidade os cenários do jogo. Bound não se foca num gameplay difícil ou profundo, em dois minutos sabemos o que temos que fazer. Os controlos servem apenas para navegarmos pelos cenários de forma a desenrolar a narrativa, que "brinca" de bela forma com temas que para muitos podem ser pesados e até reais. Alguns dos momentos mais brilhantes de Bound estão relacionados com a bela sinergia entre o trabalho de câmara e o design artístico dos cenários. É digno de parabéns.

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"Os Troféus de Bound convidam o jogador a repetir o meticuloso bailado mas isso não disfarça a sua curta longevidade."

Uma vez que Bound realiza a proeza de tornar o ballet interessante num videojogo, algo que provavelmente ninguém pensaria, a graciosidade dos movimentos e a fantasia impressa em cada gesto da menina cuja história seguimos, é acompanhada por uma banda sonora de bela qualidade. Se Bound pretende aguçar os sentidos dos jogadores e convidá-lo a sentir emoções, parte desse trabalho é feito pelas músicas e pelos efeitos sonoros que incutem drama, esperança, alegria ou dor aos cenários e acontecimentos. O estúdio diz que é uma espécie de mistura eléctrica e acústica e a verdade é que funciona. Quando um videojogo nos deixa a pensar 'este momento está mesmo fixe', é porque a sua mensagem está a alcançar com sucesso o jogador.

A história de Bound não é longa, basta pouco mais de duas horas para completarem esta experiência interactiva mas o Plastic preparou algumas mecânicas que procuram tornar o jogo apelativo para uma segunda sessão. Dependendo da ordem de níveis que escolhem, eles sofrem alterações e não são só as suas diversificadas cores que mudam, a própria atmosfera dos mesmos poderá transformar-se. Além de um modo Speedrun, baralhar a ordem dos níveis e procurar diferenciações é outro dos convites realizados pela equipa de desenvolvimento. É uma pequena funcionalidade mas que poderá reforçar o desejo de continuar aqui nos poetas interactivos.

Bound é um dos melhores "não-jogo" que vão ter a oportunidade de descobrir e será um daqueles casos em que a comunidade o tornará melhor do que jamais acreditariam ser possível. A troca de ideias, de experiências e interpretações, poderá ser a porta de partida para que alguns segmentos conquistem maior esplendor e facilmente imaginamos Bound a tornar-se em mais uma referência para os que aclamam os títulos digitais. Bound é um sinal dos tempos, um indicador de uma indústria mais experimentalista, mais arrojada e capaz de reconhecer que existem jogadores dispostos a interpretar e descodificar mensagens mais maduras e alternativas. É uma espécie de arte abstracta que permite ao jogador traçar um conto e quando funciona, agarra sem reservas.

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