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Layers of Fear - Análise

Terror psicológico.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Layers of Fear não prega muitos sustos, mas mantém uma atmosfera arrepiante do princípio ao fim. Merece uma oportunidade.

Layers of Fear não é um jogo de terror no sentido tradicional. Normalmente os fãs deste género esperam ser assustados, saltar da cadeira e ficar com o ritmo cardíaco nos pícaros, e embora Layers of Fear tenha alguns momentos destes, prefere espalhar o medo de uma forma mais engenhosa. Assustar alguém não é muito complicado, e certamente muitos de vós já o fizeram pelo menos uma vez. Basta apanhar uma pessoa num sítio pouco iluminado e surpreendê-la com um grito. Existem diversos jogos de terror que recorrem a esta técnica para assustar. É eficaz inicialmente, mas depois torna-se previsível e aborrecida.

O método recorrente de assustar em Layers of Fear é diferente e mais subtil. Raramente vão gritar ou saltar da cadeira, mas vão sentir medo constantemente. O jogo faz isto brincando connosco, mudando de repente o cenário e tirando-nos o controlo do que está a acontecer. Nunca vão chegar a sentir terror no seu estado puro, mas por outro lado, nunca se vão sentir confortáveis e dificilmente serão capazes de prever o que acontece a seguir, já que a natureza de Layers of Fear torna-o imprevisível.

Sabemos de antemão que em Layers of Fear assumimos a perspectiva de um pintor na sua busca por criar uma obra-prima. O jogo não nos dá esta informação directamente, mas as telas, os pincéis e as tintas espalhadas pela casa são uma pista óbvia. Até ao final, é assim a forma de comunicar de Layers of Fear. Temos que estar atentos aos detalhes dos cenários para percebermos o que está a acontecer, e mesmo prestando atenção, é complicado apanhar todas as informações. No entanto, uma coisa coisa é certa: este pintor tem problemas mentais e passou por uma experiência chocante.

"Raramente vão gritar ou saltar da cadeira, mas vão sentir medo constantemente."

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Depois de alguma exploração da casa, encontramos o covil do artista, com uma tela em branco no centro. É a partir deste momento que a jornada arrepiante começa. De grosso modo, o objetivo é recolher objectos para transformar o quadro numa obra-prima. A cada objecto que recolhemos, alguns deles macabros, o quadro transforma-se, ficando mais perto do seu estado final. É através do mistério que Layers of Fear mantém-nos interessados até ao final da narrativa. Queremos saber o que aconteceu naquela casa e o que vai na cabeça deste artista perturbado.

Ao princípio esta parece uma casa normal, decorada com mobília antiquada e com um estilo clássico, mas depois de descobrirmos a tela em branco, o jogo começa a pregar-nos partidas e a brincar connosco. Pouco a pouco, começamos a reparar que certos elementos do cenário alteram-se quando não estamos a olhar, e que às vezes temos que voltar para trás e o quarto pelo qual passamos à momentos foi substituído por uma área completamente diferente. À medida que vamos avançando na história, estas alterações súbitas vão ficando mais agressivas.

Layers of Fear mantém uma atmosfera na qual parece que vamos ser assustados a qualquer momento, mas o susto raramente acontece. A pouca iluminação nas várias divisões da casa ou a completa ausência dela ajudam a criar, juntamente com a sonoplastia, uma atmosfera intensa. O silêncio é constante e, na maioria das vezes, apenas ouvimos o som dos nossos passos a caminhar pelos corredores Labirínticos desta casa e os ruídos das antigas peças de mobília e chão de madeira. Só a sensação de estarmos sozinhos e desprotegidos é aterradora, e o silêncio intensifica esta sensação ao máximo.

Embora existam muitas portas, na verdade Layers of Fear é um jogo em "linha recta", havendo poucas oportunidades para explorar. A maioria das portas que encontramos estão trancadas para nos forçarem a seguir um caminho específico. Ainda assim, não basta abrir portas e continuar em frente. Em várias ocasiões o jogo apresenta quebra-cabeças que são necessários resolver para avançar na progressão. Os quebra-cabeças não são excessivamente difíceis, mas requerem alguns minutos de meditação para percebermos o que temos de fazer a seguir. Noutras ocasiões temos que interagir com um objecto do cenário, mas não sabemos bem o quê e podemos perder vários minutos a procurar esse objecto, o que pode causar alguma frustração e aborrecimento.

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"Ora ouvimos os choros de um bebé, ora estamos a ser perseguidos pelo fantasma aterrador de uma mulher."

Fora isto, Layers of Fear mantém um ritmo pautado, alternando entre momentos arrepiantes e momentos mais calmos para relaxarem, sem nunca abandonar por completo a atmosfera densa e escura. A experiência fica mais intensa quanto mais próximos ficam do final. Ora ouvimos os choros de um bebé, ora estamos a ser perseguidos pelo fantasma aterrador de uma mulher. Mas o pior é quando basta rodar a câmera para aparecerem coisas arrepiantes à nossa volta, como quadros de pessoas que parecem que têm os olhos fixados em nós ou bonecas arrepiantes. Layers of Fear adora pregar partidas destas. Não é incomum ficarem presos dentro de um das divisões da casa e de repente as luzes apagam-se. É quando isto acontece, nestas situações em que perdemos todo o controlo, que Layers of Fear atinge o seu pico.

Se gostam de ser constantemente surpreendidos, de uma atmosfera arrepiante acompanhada de uma narrativa intrigante, Layers of Fear merece a vossa atenção. O único defeito do jogo é que é bastante curto. Podem terminá-lo em cerca de 4 horas. Alguns podem considerar que é pouco, mas sentimos que é a longevidade ideal para um jogo destes, caso contrário, poderia eventualmente tornar-se enfadonho e previsível. Ainda assim, existe valor de repetição. Há vários coleccionáveis e documentos que explicam melhor a história, e apesar de ter chegado ao final do jogo, reparei que ainda tinha troféus escondidos por desbloquear.

Um dos aspectos mais impressionantes de Layers of Fear, e que o ajuda a criar a sua atmosfera, reside na forma como a casa está criada. As várias divisões pelas quais passamos são ricas em detalhes, embelezadas por antigos objectos e por vários quadros. A casa parece real, e apesar de estar vazia, sentimos que existe qualquer coisa estranha. Isto torna-se óbvio quando começamos a ver as paredes a escorrer tinta ou aparecem mensagens escritas com pinceis. Mais óbvio se torna quando os limites da realidade são ultrapassados e a casa se transforma para apresentar cenários surrealistas.

Mas acima de tudo, gostamos que Layers of Fear não tenha recorrido às técnicas fáceis de assustar. Este é um jogo de terror autêntico que brinca com a dimensão psicológica para criar medo. Pode não ter muitos daqueles sustos repentinos, mas fazendo as contas, no final a experiência é muito mais intensa. A história, apesar de ser de difícil compreensão, encaixa muito bem com estilo de jogo e tem um final surpreendente.

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