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Kirby: Rainbow Paintbrush - Análise

Pincel mágico.

Uma óptima estreia de Kirby na Wii U que só não é recomendada devido à escassa e simples interacção.

Ao longo destes quase dois anos e meio de presença da Nintendo Wii U no mercado, uma boa parte das produções "first" e "third party" (na fase inicial lembro-me bem de Zombi U) tem colhido proveito das funcionalidades exclusivas do GamePad, um misto de tablet e comando tradicional com botões. Tirando mais ou menos partido do ecrã táctil, microfone, giroscópio e mais recentemente a tecnologia NFC para a compatibilidade com as figuras Amiibo, grande parte dos jogos disponíveis para a consola não deixaram de assentar num modelo tradicional, mantendo a ligação aos comandos por botões. Talvez um exemplo claro quanto ao aproveitamento das duas vertentes (ecrã táctil e esquema tradicional de botões) seja The Wonderful 101, que permite ao jogador desenhar uma série de armas no ecrã táctil para dessa forma obter uma vantagem diante de adversários poderosos, como também pode desfrutar de uma experiência de acção nos moldes típicos da Platinum Games, com muita acção a partir dos movimentos ofensivos e sucessivas combinações através dos botões.

No caso dos jogos indie, muitos deles oriundos do "mobile", smartphones e tablets, marcados pela simplicidade e acessibilidade, a superfície táctil do ecrã do gamepad proporcionou uma linha de continuidade, sem necessidade de grandes adaptações aos botões e a comandos mais complexos. Derivado de Kirby: Power Paintbrush, um dos jogos da série Kirby mais inovadores por força dos comandos à época originais da DS (em 2005 os jogos em ecrãs tácteis eram raros, Snake da Nokia ainda fazia furor e os tablets não existiam), Kirby Rainbow Paintbrush, por força da sua exclusividade de comandos a partir do ecrã táctil, poderia ser um dos maiores jogos indie não fosse mais um trabalho do Hal Laboratory e não tivessem entretanto passados mais dez anos.

O multiplayer torna a tarefa mais fácil para Kirby.

A sequela que o Hal Laboratory produziu para a Wii U não é uma novidade por inteiro, nem o jogo mais original da série e talvez não seja a melhor experiência Kirby dos últimos dez anos, mesmo podendo ser um bom Kirby e o único especificamente criado para a Wii U, algo que deixará sempre os fãs agradados, até porque há muito para descobrir, e o sistema relativo à jogabilidade não deixa de ser apelativo. Kirby and the Rainbow Paintbrush, tal como muitos outros jogos produzidos pela Nintendo, mostra-nos uma produção cuidada e desenvolvida. No entanto, é um jogo que ao longo dos seus sete diferentes mundos dificilmente galga as margens de uma certa previsibilidade, sistematicamente ancorado nos mesmos processos e técnicas, quase todos herdados de Power Paintbrush. À excepção da frescura em termos de cenários, baseados no barro e pintados à mão, o modelo de jogo, ainda que trabalhado e melhorado, torna a experiência mais "mobile" e linear, sem os picos de criatividade das plataformas ou das combinações de movimentos. Quase que podia ser um jogo da 3DS, sem necessidade de olharmos para o televisor a não ser na opção para vários jogadores.

A sensação de um Kirby quase "on rails" é gratificante numa primeira instância e os níveis são suficientemente longos e pejados de múltiplos e diferentes obstáculos para criar os mais diferentes desafios, mas não tarda a completarem em pouco tempo o jogo e a sentirem que a margem de progressão e desenvolvimento da jogabilidade não é tão grande, nem evolui grande maneira depois de percorridos os três ou quatro primeiros mundos. O modelo interactivo é uma surpresa mas tende a manter as coordenadas e não levanta o voo que outros jogos da série Kirby conseguiram.

Tal como em Power Paintbrush, não controlam Kirby directamente: apenas a sua velocidade. A partir deste ponto nuclear, a experiência muda completamente de figura face aos jogos de plataformas e demais episódios da série, o que é bom por um lado, embora por outro lado tenha um potencial mais delicado de lidar, se quisermos uma experiência profunda. Um toque sobre a ternurenta bola cor de rosa é suficiente para a colocar em marcha, isto é, rolar. A partir daí terão de o guiar, desenhando linhas por onde ele possa progredir. Estas linhas, com as cores do arco-íris entrelaçadas, têm limites, por força de uma barra colocada no canto superior esquerdo que vai diminuindo de intensidade à medida que desenhamos "trajectos" no ecrã táctil. No limite poderemos não ter mais tinta para pintar linhas e ver Kirby sair do seu trajecto, caindo eventualmente no abismo. Daí que seja relevante escolher o melhor trajecto e a direcção imediata para o objectivo pretendido e ter sempre atenção à barra de cores.

Leva algum tempo até nos habituarmos ao modelo de jogo. Mas até lá é normal o cometimento de erros e precipitações no desenho das trajectórias ideais.

Sejam linhas descendentes ou ascendentes, Kirby rola facilmente, desde que disponha da velocidade necessária. Por vezes é necessário um empurrão e um toque repetido para que entre em rolamento mais depressa, conseguindo dessa forma quebrar blocos de cartão ou pedra, assim como poderá rebentar inimigos, libertando-se dos obstáculos para assim progredir. Em formato "scroll" horizontal ou vertical, sob uma perspectiva 2D mas com cenários e personagens em 3D, quase sempre a perspectiva avança automaticamente , implicando respostas rápidas da nossa parte, na tentativa de evitar os obsctáculos.

Com sete mundos divididos por três segmentos em cada um, mais uma batalha contra um inimigo poderoso no final, todos os níveis oferecem um conjunto significativo de coleccionáveis. Desde tubos de tinta que permitem encher a barra (embora mais visíveis nas batalhas contra os bosses), passando por estrelas de diferentes tamanhos, até saídas para áreas secretas, há muito para alcançar enquanto se avança em direcção à meta. As estrelas não são menos importantes. Por cada centena de estrelas acumulada, podemos clicar demoradamente em Kirby e activar um poder especial depois de aumentar de tamanho, transformado numa bola gigante, quase invulnerável, ainda que temporariamente. Nesta forma poderá quebrar blocos de granito e derrubar inimigos perigosos e de grandes proporções. Estrelas maiores atribuem mais pontos, enquanto que as mais pequenas oferecem uma quantidade limitada mas também existem em maior número.

Ainda que os níveis sejam longos e pejados de obstáculos, com imensas armadilhas e inimigos difíceis de superar, não são difíceis de completar. Até ao penúltimo mundo, Red Volcano, o grau de dificuldade não é muito elevado, desde que utilizem a "stylus" de forma eficaz. Talvez a curva de aprendizagem seja um pouco mais demorada do que é usual, mas se forem habilidosos não terão problemas em enviar Kirby na direcção pretendida. Mais problemático só as lutas de fim de mundo, mas aqui a vida dos adversários esgota-se depressa, se forem eficazes e recolherem as estrelas necessárias para ganhar o poder de transformação com o qual poderão aplicar golpes poderosos. Descobrir a receita para os derrotar também não é complicado.

Debaixo de água Kirby utiliza os óculos de mergulhador. Noutros níveis transforma-se num submarino.

Vão passar algum tempo a entrar em áreas bónus, onde podem obter arcas do tesouro e prémios, desde que sejam rápidos a chegar ao objectivo, como movimentar Kirby ao longo de um labirinto até à meta em menos de 15 segundos. Outras vezes terão que abrir portas fechadas recorrendo a chaves depositadas em áreas afastadas. A interacção com elementos do cenário é frequente, como por exemplo as linhas sobre as cascatas de água por forma a permitir que Kirby atravesse a secção, ou passar a "stylus" por uma substância gelatinosa de modo a deslocar pedregulhos para que a bola fofa consiga atravessar a secção depois de desenharmos um percurso.

Os níveis apresentam quase sempre bom design, com bom posicionamento dos inimigos e elementos que perturbam o andamento normal, assim como pontos que requerem interacção e toque através da stylus. Se perderem uma vida o checkopoint está por perto. As áreas estão divididas por temas, não faltando o mundo de areia, o mundo subaquático, o mundo volcânico, a floresta, a passagem pelas nuvens. Aos elementos específicos adicionados em cada mundo, assim como inimigos exclusivos, correspondem as transformações da personagem e as evoluções do conceito, ainda que de uma forma simplificada, podendo até facilitar na tarefa.

Nalguns níveis, Kirby transforma-se automaticamente num de três aparelhos: um tanque, um submarino e um foguete. Estas alterações oferecem mudanças na forma como interagimos com o novo aspecto de Kirby. Por exemplo, no mundo subaquático, quando transformado num submarino, se tocarmos num ponto do cenário, Kirby dirige-se para lá, automaticamente, pelo que as linhas são utilizadas exclusivamente para canalizar os torpedos na direcção dos inimigos ou de certos elementos do cenário. O efeito é interessante e por momentos quase parece que estamos a jogar um "shmup", mas também fica a sensação de que algumas partes ficam mais facilitadas.

Nos céus, Kirby poderá transformar-se num foguete e atingir os inimigos com uma onda choque emitida a partir da sua cabeça. O controlo envolve apenas a deslocação da personagem por intermédio dos percursos. Sob a forma de um tanque, fica mais fácil alvejar os inimigos, desde que toquemos com a stylus sobre cada um, no entanto o movimento do tanque é mais reduzido, o que pode implicar mais perigos, sobretudo exposições a ataques. Mas mais uma vez, fica a sensação de uma participação em termos interactivos algo limitada ou focada apenas em certas componentes, o jogo faz o resto. A ausência de um controlo completo sobre a personagem mitiga a experiência e limita a componente interactiva, ainda que a estrutura à volta da componente "on-rails" esteja bem montada.

Há uma componente multiplayer disponível para um bom acervo de níveis, mas parece ter falhado o equilíbrio necessário para manter o desafio. Se o jogador optar pela companhia de três amigos, cada um com o seu Wii remote e Waddle Dee, a personagem eleita, ficará com uma passadeira estendida para cruzar a meta. Com os assistentes a tarefa fica demasiado simplificada. Estas personagens podem saltar e atordoar os inimigos, retirando boa parte da dificuldade e abrindo caminho ao sucesso. Valerá a pena para um público menos acostumado a este género de jogos, mas os veteranos vão optar por jogar individualmente.

Ao mesmo tempo é possível desbloquear poderes especiais para Kirby, desde que utilizem as figuras Amiibo compatíveis com o jogo: Meta Knight, Kirby e King Dedede. Existem no entanto algumas restrições, como a utilização de um poder de uma Amiibo só uma vez por dia. É interessante que estas diferentes Amiibos venham ajudar Kirby com diferentes poderes mas é uma afectação residual e limitada, como verdadeiros bónus. Mais dificuldade só em encontrar uma destas Amiibos à venda, caso não tenham adquirido uma na respectiva janela de lançamento.

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O jogo oferece ainda uma série de desafios, pequenos "challenges" que funcionam como lutas contra o crono. São óptimos para treinar e aperfeiçoar as técnicas. Ao todo há mais de cinquenta para completar embora muitos deles sejam parecidos e estejam circunscritos a pequenas áreas. Tendo sucesso terão direito a um prémio, como personagens coleccionáveis e músicas da série que seguramente darão agrado aos fãs, funcionando como uma espécie de troféus. Muitos destes "challenges" são bastante complicados.

No entanto, é difícil recomendar Kirby and the Rainbow Paintbrush quando está em causa um modelo de jogabilidade algo circunscrito quanto ao seu campo de interacção. De forma alguma é um jogo com falhas ou erros, denotando má produção. Como já dissemos, a produção apresenta-se com qualidade, trabalhada, como em qualquer outro jogo do Hal Laboratory, mas limitar a jogabilidade a uma série de interacções por via do ecrã táctil, condiciona a experiência e nem mesmo as transformações de Kirby, através de três aparelhos, ajudam a projectar o jogo. A interacção com os mundos de barro também é escassa, quando noutros episódios da série já tivemos bons aproveitamentos. Apesar disso e aceitando estes constrangimentos, vão encontrar um jogo encantador, não muito desafiante, não o típico jogo de plataformas, mas ainda assim vasto e dotado de uma boa estrutura de coleccionáveis.

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