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Crítica à atualidade da Industria

Serão os conteúdos adicionais, microtransações, remasters e algumas mentalidades que se criaram nesta geração benéficas para os jogos e jogadores?

A indústria que tanto gostamos e acompanhamos nunca foi perfeita, tal como nada o é, mas com esta nova geração veio exigências e mentalidades que pouco ou nada beneficiam a indústria, bem como alguns modelos de negócios que transitaram da geração anterior para esta com uma maior força e que muitas das vezes não beneficia o jogador.

Gosto de chamar os jogos como arte “videojogável”, tal a complexidade de se fazer um jogo e o design do mesmo, mas quando falo em arte não é só devido a esses dois fatores, mas ao produto como um todo. A indústria tem estado em constante evolução e os jogos tiveram um salto significativo de geração para geração, onde diversos aspetos dos jogos foram imensamente melhorados, constituindo também uma maior complexidade em praticamente tudo, pelo que a mentalidade de alguns jogadores e críticos também mudaram com o tempo.

Os Quick Time Events (QTEs), por exemplo, são hoje em dia criticados ou vistos com maus olhos pela maioria dos críticos e dos jogadores, algo que se pôde ver pelo The Order: 1886 mas não só, no entanto é uma forma de se jogar tal como qualquer outra e deve ser visto, tal como sempre o foi, como uma mecânica alternativa de jogabilidade e que, dependendo do jogo, o pode distinguir e oferecer uma maior imersão devido á natureza mais cinematográfica da mecânica em si. Um dos jogos mais amados e mais pedidos pelos jogadores é Shenmue e veja-se só: tem QTEs. Outros jogos, embora diferentes mas também de grande qualidade, como Life is Strange, Heavy Rain, God of War, Tomb Raider, entre outros, também adotam essa mecânica.

Todos eles se distinguem de uma forma ou de outra e os QTEs ajudam a isso, oferecendo uma forma algo diferente e interessante de os jogar. Pode-se dizer que os QTEs fazem parte da história dos videojogos e com esta nova geração há que ter isso em conta, dando-se primazia na forma como foram incluídos e a sua qualidade, e não olhar, desde o início, com maus olhos ou criticar um jogo por simplesmente ter essa mecânica, como tem acontecido imensas vezes.

E com esta nova geração também veio um outro tipo de mentalidade: a obrigatoriedade de um jogo ter multiplayer competitivo ou modo cooperativo, personalização, jogo com mundo semi-aberto ou mundo aberto, missões secundárias, entre outros. Jogos que não tenham tais coisas serão apelidados de “datados”. Jogos lineares, com pouca duração e com total foco na história já não serão considerados como um verdadeiro jogo de nova geração, mas sim um jogo que vai em direção completamente oposta às atuais tendências da industria. E isso normalmente é considerado mau, quando deveria ser considerado como uma alternativa. Um jogo não tem que ter multiplayer, não tem que ter cooperativo, não tem que ser mundo aberto ou semi-aberto, não tem que durar dezenas de horas e não tem que ter personalização. Cada jogo é como é e diversidade é sempre muito bem vinda. Além disso o que não faltam são jogos que foram lançados nas gerações anteriores que não tem as características anteriormente referidas e que são considerados jogos de extrema qualidade.

Há portanto que aprender a olhar e “analisar” um jogo como ele é e não como deveria ser, tal como se fazia e bem no passado. Porque quando se foca mais no que deveria ser ou ter em vez do que é e tem, algo está mal. Porque se todos os jogos vierem a ter todas as mecânicas que a maioria quer e se vierem a ter todos os aspetos anteriormente referidos que são hoje em dia considerados o padrão dourado, as produtoras poderão ser influenciadas a fazerem jogos que façam mais o estilo dos críticos e dos jogadores desta geração, para depois serem melhor recebidos e o marketing ao jogo ser assim mais efetivo, fazendo com que a repetitividade aumente e a diversidade diminua.

Mas o modelo de negócio também mudou e portanto as produtoras mudaram com o tempo. Começou na geração passada, no entanto estendeu-se para esta geração e diria que com uma maior força. Falo dos DLCs, Season Pass e Microtransações. Não tenho qualquer problema quando esse modelo de negócio seja feito de uma boa forma e que beneficie o jogador, ou seja, quando os DLCs são gratuitos ou, mesmo que pagos, que prolongue realmente um determinado jogo e, talvez acima de tudo, tenha qualidade. Também não sou contra os Season Pass, desde que juntem todos os conteúdos a um preço convidativo, ou por outras palavras, barato e recompensador. Também não sou contra Microtransações, desde que não abusem desse sistema para simplesmente obrigar um jogador a comprar algo para poder passar uma determinada parte mais facilmente ou algo que acabe por ser injusto para quem decida não apoiar tal medida.

No entanto, e na maioria das vezes, isso não acontece e vejo-me constantemente contra esses modelos de negócio, não porque os mesmos não sejam bons, mas porque são mal utilizados pelas produtoras/editoras. E digo mal utilizados porque acabam por usar esses modelos de negócio para muitas das vezes cortarem no jogo em si quando ainda está a ser produzido, porque já estão a pensar lançar os conteúdos após o jogo sair, com um preço nada convidativo e por vezes com conteúdos praticamente inúteis. Além disso há quem ponha Season Pass a preços que davam para comprar um jogo ou as Microtransações onde colocam algo a pagar para uma pessoa poder mais facilmente passar determinada parte, enquanto que aqueles que decidem não apoiar tal medida terá mais dificuldades em o passar. É portanto uma lufada de ar fresco quando a CD Project Red revela orgulhosamente que o The Witcher 3: Wild Hunt terá 16 DLCs gratuitos. E provavelmente está orgulhosa por dois motivos: fazer isso para agradar aos jogadores e ir em direção completamente oposta da indústria.

Os remasters são outros dos modelos de negócios que se está a usar e abusar e é algo que atualmente se fala muito. Até há quem chame esta nova geração de geração remaster. Não sou contra os remasters por três simples razões: os jogos são melhorados, em certos casos juntam todos ou quase todos os conteúdos adicionais, tornando-se nas versões definitivas, dá a oportunidade às pessoas que não tiveram a consola ou o jogo na geração passada e porque só compra quem simplesmente quer. Ou seja, é uma opção e opções são bem vindas! Há pessoas que criticam os remasters pelo simples facto da sua existência, mas criticam até sair um que lhe agrade, algo que tenho reparado, mas não só em Portugal. No entanto é inegável que têm sido lançados ou anunciados muitos remasters, alguns a preços nada acessíveis, e aí vejo-me contra esse modelo de negócio, devido ao preço. Não faz sentido quando um jogo lançado originalmente há dois, três ou mais anos seja remasterizado e custe mais de 50 euros. Nesse caso há duas alternativas: criticar o preço e não comprar enquanto não descerem o mesmo. Se há imensos remasters é porque há procura, e se há procura é normal que as produtoras/editoras explorem esse modelo de negócio, pois esta industria é, e sempre foi, um negócio. E se os jogadores compram os remasters, porque não lançar remasters de grandes jogos? Quando deixar de haver procura, o lançamento de remasters irá diminuir drasticamente ou até deixarão de serem lançados por um bom tempo.

Portanto as pessoas devem “analisar” um jogo como ele é e não como deveria ser e os jogadores devem sempre adquirir um jogo quando acha que faz o seu género e quando acha que lhe deverá gostar, utilizando a crítica como um meio de informação e não como um meio que influencie ou não a sua compra independentemente da receção a um jogo. Quantos jogos é que foram mal recebidos e que lhes deram uma oportunidade e adoraram? Quantos e quais os jogos que foram muito bem recebidos e que os jogaram mas que não gostaram? Porque análises são opiniões de profissionais da indústria, mas são opiniões de pessoas que não conhecem e como tal são certamente pessoas com gostos diferentes dos vossos. Por vezes gostam do que os críticos não gostam e por vezes não gostam daquilo que os críticos gostam. Cada um tem os seus gostos e isso faz-me tocar no assunto dos QTEs e características dos jogos, onde cada jogo é um jogo e cada um é como é. Não tem que partilhar todos dos mesmos aspetos para serem um grande jogo, tem sim que ter qualidade individual naquilo que oferecem. Os jogos indies mostram isso mesmo, escassos em diversos aspetos, mas muitos deles de grande qualidade e no fim isso é que importa.

Em relação aos DLCs, Season Pass e Microtransações, quando maior for o apoio que se der com a carteira, maior será o foco das produtoras em apostar nesse tipo de conteúdos, tal como já se pode ver. Nem todos os DLCs são maus, alguns conteúdos compensam, principalmente aqueles que acrescentam uma mini-campanha onde explora melhor o mundo de jogo e a sua história, e alguns até são dados ou tem um preço acessível, tal como alguns Season Pass compensam, no entanto muitos deles não. As Microtransações, quando usadas de forma correta e moderada, podem ser benéficas, quando usadas de forma errada e exagerada, não só prejudica os jogadores que não apoiaram a medida, como facilita imenso aqueles que estão dispostos a pagar, havendo portanto uma injustiça para o lado de quem decide não apoiar a tal medida.

Finalizando, os remasters não passam de uma opção; uma oportunidade para as pessoas que, por algum motivo, não tiveram a oportunidade de jogar um determinado título na geração anterior. Não é um modelo de negócio perfeito para os jogadores muito devido ao preço de alguns remasters e isso sim é algo que se deve ter em conta e se possível criticar, mas também não é algo que possa ser generalizado. Agora a própria existência dos remasters não é algo mau e pelos vistos procura é o que não falta, pelo que há jogadores que os querem e por outro lado as produtoras/editoras ganham dinheiro com isso, que pode muito bem ajudar em novas produções ou até mesmo ficarem com um maior conhecimento da arquitetura das consolas, que também poderá ser benéfico na criação de um novo jogo. Quem é totalmente contra os remasters tem uma boa e simples solução: ignorá-los e comprar os jogos que quer e gosta, pois o que não falta são jogos de qualidade e de diversos géneros.

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Sobre o Autor

Luís Almeida

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