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Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy - Análise

Take that!

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
A intriga. O drama. O humor. 3 jogos e horas de casos para deslindar na pele do mais famoso advogado. O entusiasmo da sala de audiências.

O mais famoso advogado da história dos videojogos está de regresso à portátil da Nintendo com uma trilogia. Três jogos que, embora sendo remasterizados, provavelmente são desconhecidos de uma grande fatia da audiência ocidental. Os casos do carismático defensor sempre foram muito populares no Japão, onde a série estreou na Game Boy Advance, sem que o lançamento tenha chegado ao nosso território, estando por isso muito mais depressa ligada à Nintendo DS, com o seu ecrã duplo e táctil, provavelmente a imagem de marca que muitos fãs associam aos primeiros jogos.

Enquanto que para alguns jogadores e utilizadores acérrimos da DS esta trilogia peca pela ausência de novidades, para outros constitui uma oportunidade para conhecer três episódios centrais e muitos casos para resolver em tribunal, com o humor a que a série nos habituou nos casos mais recentes, lançados para a 3DS (Dual Destinies) e sem omitir o encontro inesquecível com o Professor Layton, numa conjugação de sistemas notável.

É mesmo isso que deve ser dito em tribunal.

Apesar das poucas novidades ou alterações face aos clássicos, Phoenix Wright Trilogy é particularmente forte em qualidade, humor, personagens, intriga e drama. Os fãs conhecem o forte pendor narrativo ligado a cada caso e a forma como estes se constroem, de forma lenta e progressiva, a formação do substrato que alimenta o caso que Phoenix Wright, ou Nick, como os seus amigos próximos o tratam, irá depois desmontar em tribunal quando instado a confrontar os depoimentos das testemunhas, servindo-se das provas apresentadas em tribunal para mostrar ao juiz a falsidade dos depoimentos. Apesar da muita história e dos constantes diálogos entre as personagens, os mesmos são quase sempre muito directos e relevantes para o conhecimento do caso. Por norma, a cerca de 20 a 30 minutos de revelação de caso e exposição do mesmo, corresponde um outro tanto ou mais, dependendo da nossa capacidade de detecção das falhas no decurso dos depoimentos e da apresentação das provas certas para as demonstrar.

A remasterização da saga Ace Attorney corresponde aos seguintes três jogos: Phoenix Wright: Ace Attorney, Phoenix Wright: Ace Attorney Justice for All e Phoenix Wright: Trials and Tribulations. A Capcom sempre assumiu uma postura algo resiliente quanto à publicação destes jogos no ocidente, e como ainda se viu recentemente com Dual Destinies, o jogo só chegou à eShop europeia em formato digital. O mesmo sucede com esta trilogia, indisponível em formato físico.

E embora estes três jogos sejam em termos de mecânicas semelhantes aos originais, detecta-se facilmente o retoque proporcionado pela Capcom na arte do jogo e com um grafismo compatível com o efeito estereoscópico da 3DS mesmo que não seja relevante para tirar partido do jogo ou beneficiar de algum enquadramento específico das provas. De resto o ecrã táctil continua a ser uma espécie de parceiro seguro quanto ao manuseamento das provas, selecção de respostas e outros pontos de intervenção como o famoso "Hold it!" usado por Nick para travar a animosidade do depoimento da testemunha.

Nem sempre.

Os jogos da série Ace Attorney são conhecidos pela sua extensão e imensa longevidade. Os casos multiplicam-se, com uma série de intervenções, julgamentos, idas aos locais, reviravoltas, como uma trama dramática bem justifica. Isso leva-vos a cumprir aproximadamente 20 horas por jogo, o que significa que somado bem todo o tempo, têm aqui matéria-prima a desfiar para muito tempo, dependendo sempre da vossa disponibilidade.

Em Ace Attorney, o título de estreia, cumprem o papel de Phoenix Wright, um advogado recém-formado e acabado de chegar à barra dos tribunais, logo para defender um amigo dos tempos do liceu, falsamente acusado da morte da sua ex-namorada, uma modelo que o deixou para sair com outros homens (e viajar até Paris), acabando assassinada no apartamento onde residia, por um vendedor de jornais. Este é um dos melhores e mais bem conseguidos pontos da série, a apresentação de personagens únicas, exclusivas, esmagadas por clichés nalguns casos e com uma série de tiques e expressões que nos derrotam por completo tal o humor corrosivo e aperto que revelam quando diante de um cenário complicado. As narrativas são boas, não entram em grandes tangas ou paranóias do fim do mundo e tocam assuntos que na maior parte das vezes enquadramos como do nosso quotidiano, mas todas com aquela pitada de humor e apresentação inconfundíveis. O jogo agarra-nos e quando menos esperamos algo acontece.

Em termos de operação, há que separar dois contextos centrais. A fase da investigação e a fase do julgamento, no tribunal, onde Nick brilha verdadeiramente. A investigação compreende a visita aos locais do crime. É lá que irão reunir provas imprescindíveis para julgamento mas também trabalhar sobre a construção do crime, confrontar testemunhas e, no fundo, obter um conhecimento imprescindível. A construção simples, directa e muito orientada dos diálogos, por vezes com alguns apartes que não valorizamos naquele momento, pode distanciar-nos e tomar com leveza aquele encadeamento, mas muito do que é referido torna-se crucial em momento posterior, pelo que é premente seguir cada instante e conversa com a máxima atenção.

Comparativo entre o original e o retoque para a trilogia.

As audiências de julgamento obedecem a uma interacção diferente. Muitas vezes serão confrontados com questões sobre o caso, como forma do jogo apurar os vossos conhecimentos, mas o essencial passa por desmascarar as testemunhas mentirosas e absolver as personagens injustamente incriminadas à custa de procuradores atrozes e vis, uma espécie de co-antagonistas, sendo que o juiz inclina-se muito mais para o lado da acusação, o que vos obriga a redobrar o trabalho, analisando os depoimentos com atenção, puxando para a frente e para trás uma frase até encontrarem a incongruência no discurso.

Os testemunhos vão ficando cada vez mais complexos e difíceis à media que progridem na narrativa. Há testemunhas que mentem com classe, conseguindo superar as dificuldades, obrigando Nick a um esforço suplementar. As tentativas de apuramento da verdade que não resultem em sucesso ou validade pelo juiz implicam uma pequena penalidade. As chances para falhar são limitadas, pelo que uma vez esgotadas o caso fica definitivamente perdido e o vosso acusado é condenado.

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Na passagem para Phoenix Wright: Ace Attorney Justice for All, a Capcom incrementou ligeiramente a dificuldade, introduziu novos elementos probatórios e sistemas de detecção de erros das testemunhas, como a Magatama, a qual também fornece pistas. A densidade narrativa é maior, com novas personagens, procuradores, acusados e testemunhas que farão tudo para incriminar os inocentes, como a assistente Maya Fey. Neste segundo jogo da série os acontecimentos decorrem um ano depois do primeiro jogo. O terceiro e último jogo, Trials and Tribulations, apresenta algumas particularidades, especialmente a introdução de Mia Fey como "protectora" de Phoenix Wright, justamente num caso onde o mesmo é suspeito. No entanto, em boa parte da aventura acompanhamos o jovem advogado, com novos casos e situações bem mais complicados que os anteriores, com a agravante da subida do nível de dificuldade.

Este conjunto é o tomo dos casos e demandas judiciais de Phoenix Wright, da primeira vaga. Três jogos restaurados que não oferecem novos conteúdos ou bónus mas que representam uma grande oportunidade para recuperar os três primeiros episódios do princípio ao fim. Em termos de conteúdo o valor é muito grande, com mais de 60 horas de jogo, por um preço especial. Se completaram os títulos mais recentes e não passaram os primeiros, esta maratona judicial está polvilhada de intriga, drama, humor e momentos de intensidade emocional, completando o puzzle com as peças que faltavam.

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