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Hyrule Warriors - Análise

Link entre mundos!

Hyrule Warriors é muito daquilo que os fãs de Zelda mais aguardam, mas que provavelmente só será reconhecido quando principiarem numa das múltiplas batalhas épicas desta criação conjunta entre Tecmo Koei e Nintendo, como uma partitura musical para piano inédita e composta a quatro mãos, as de Yosuke Haiashi e Eiji Aonuma.

Um jogo novo, ancorado na história de Hyrule e em quase uma dezena de guerreiros protagonistas que se cruzam num longo arco narrativo, mas que é também uma experiência totalmente orientada para o combate e batalhas absolutamente massivas na boa forma de um "beat'em up". Ao combinar, o motor do jogo e a voracidade das batalhas de Dynasty e Warriors (Musou), com o ADN, estética e enquadramento narrativos do lendário The Legend of Zelda, Nintendo e Tecmo Koei imprimem uma troca de identidades em favor de uma originalidade em género, embora preservando núcleo das suas séries.

Hyrule Warriors responde a muitas questões colocadas após o anúncio do jogo, no final de 2013, e limpa as dúvidas que podiam restar sobre uma proposta que em nenhum momento deixou de se considerar arrojada e talvez por isso sujeita a alguns riscos. O resultado final espelha sobretudo competência na definição das mecânicas do jogo, todas das séries Musou, mas também uma montra de heróis e guerreiros num tempo e espaço bem conhecidos dos fãs da série Zelda. O herói de Hyrule é equiparado ao papel de um super guerreiro, e talvez aquele que mais ansiamos por controlar nos instantes iniciais, quando com a Hylian Sword começamos por descrever movimentos graciosos, fluidos e sob um colorido vivo e abundante diante de uma legião de inimigos.

Link é uma das personagens disponíveis.

Percebe-se porque Yosuke Haiashi refere que a dificuldade maior na criação das personagens incidiu sobre Link. É que quase todos os interessados nesta produção conhecem minimamente os movimentos e a sua particular forma de combater. Negar isso seria um erro. Surpreendentemente, Link é apenas um dos vários heróis que temos à nossa disposição e que nos convence pela adaptação ao estilo "beat'em up", ainda que muitos dos seus movimentos e combinações de ataque sejam novidade.

Mas assim que avançamos de episódio em episódio, através do modo Legends, um dos grandes modos do jogo, experimentando novas personagens, armas e poderes especiais, muitos deles nunca sequer jogáveis nos capítulos centrais da série Zelda, como Ganondorf ou Darunia, encontramos um elevado potencial de interacção assim como um catálogo de movimentos fortíssimo. Sobretudo quando somos postos à prova diante de certos inimigos, e não menos conhecidos, mas libertos da clausura existente nas masmorras onde tradicionalmente os encontramos no fim de uma "quest". Hyrule Warriors: o nome não pode estar mais certo. Como o excelente livro Hyrule Historia, que sistematiza cronologicamente os diferentes episódios da série Zelda, também Hyrule Warriors prima pela cronologia e pela concretização de cenários e campos de batalha, que se cruzam com momentos marcantes vividos pelo herói de Hyrule.

Hyrule Warriors é sobretudo um "beat'em up", e um jogo que confere ao universo Zelda um nível de acção sem precedentes, porventura exagerado na dimensão das batalhas mas que produz um ritmo altamente frenético, sobretudo a partir do momento que os objectivos em campo aberto se multiplicam quase à velocidade da luz, o que nos obriga a ter atenção não apenas nos inimigos que nos encontramos a combater mas também em olhar bem para o mapa e descortinar o percurso que temos de fazer para auxiliar um combatente aliado ou um camarada nosso em apuros.

Cover image for YouTube videoHyrule Warriors (Wii U)

Mas antes de atentarmos nas mecânicas de jogo, interessa salientar que a narrativa começa com o nosso herói de Hyrule muito antes de conseguir a "Master Sword". Link começa por ser um oficial do exército a participar em combates de treino, usando uma túnica à semelhança dos combatentes medievais. Nesta altura ainda não é bem o herói que conhecemos e a princesa Zelda participa na primeira batalha em Hyrule Field antes de ser levada pelas forças maquiavélicas comandadas por uma estranha bruxa conhecida como Cia, desejosa de deitar mãos à triforce.

A estrutura principal do argumento será facilmente reconhecida pelos fãs, ainda que possa ocorrer alguma desorientação fruto da estrutura mais alargada da história, até porque há remissões para muitos locais emblemáticos de anteriores episódios da série Zelda e isso requer alguns pontos a atar. Felizmente, os intervalos entre as missões, são preenchidos com cinemáticas de grande qualidade que cumprem perfeitamente o desígnio. Aqui os produtores esmeraram-se e podemos ver os guerreiros de Hyrule como há muito queríamos. Mas é na passagem para as batalhas em tempo real que encontramos a qualidade do trabalho, sobretudo nos modelos muito autênticos das personagens, quase equiparáveis aos das cinemáticas. A fluidez e atenção ao detalhe são pontos imediatamente identificados, embora com o contraponto do menor labor dos cenários, a fim de não prejudicar a cadência de fotogramas.

O modo Legends é o conteúdo principal do jogo. Com ele acompanhamos a narrativa através de sucessivas batalhas que se alinham numa ordem cronológica. Em campo, e após seleccionar uma das personagens, temos de cumprir os objectivos em tempo real, escolhendo a melhor táctica para derrotar o adversário. Esta mecânica é típica de um jogo de ataque ao forte e defesa da base das tropas aliadas. A nossa personagem opera como comandante supremo. Os mapas são grandes, escondem as típicas arcas do tesouro e apresentam diferentes secções, óptimas para descobrir mais alguma coisa. Normalmente os objectivos passam por vencer zonas controladas pelos inimigos, o que nos obriga a vencer todas as tropas adversárias mas também os comandantes de posto. No meio de tantos inimigos, é fácil identificar os líderes, quase sempre assinalados com a sua barra de energia, o que nos deixa activar o "lock on" para dessa forma nos concentrarmos nesse adversário, sendo que a mesma táctica se aplica para os "bosses".

Momento emblemático da série Zelda.

Antes de entrarmos em combate no mapa podemos verificar as posições dos inimigos, os seus fortes e as nossas defesas. A única dificuldade que noto neste sistema é que por vezes acontece algum atraso na colocação dos objectivos. Por exemplo, ao capturarmos um posto ou um objectivo, a mensagem de confirmação tarda cinco ou dez segundos a chegar, o que pode causar alguma desorientação. Além disso certas localizações do mapa não estão designadas e quando há concorrência de objectivos, com cintilação no mapa sobre os locais alvo da nossa intervenção perdemos algum tempo a olhar para o mapa a fim de nos assegurarmos que avançamos na direcção certa. Mas muitas vezes podemos chegar tarde demais ao local. Felizmente existem pontos intermédios de gravação e também podemos gravar a qualquer altura a nossa posição.

Existe também um elemento estratégico a ter em conta nas batalhas. É que cada cenário possui um elemento recomendado e todas as personagens que podemos escolher podem usar uma arma que é compatível com esse elemento. Normalmente há um polegar estendido a revelar qual a personagem que melhor serve. Depois só temos que escolher a arma e partir para combate. Em termos de movimentos é aqui que Hyrule Warriors se transforma numa boa surpresa. Afastem a ideia de que chegam ao fim do mapa com vitória pressionando os botões de ataque indiscriminadamente. Embora o possam fazer diante das vagas de inimigos que são afastadas como quem corta erva num golpe de foice, já os "bosses" de fim de nível e muitos combates intermédios de grande importância requerem concentração e uma maximização das combinações possíveis, o que torna tudo muito mais interessante.

Sendo que os combates decorrem sob uma fluidez impressionante, sentimo-nos altamente compelidos a praticar todo o tipo de movimentos. Estes repartem-se pelos golpes de ataque, usando os botões X e Y para ataques mais fortes (mais demorados) e mais leves(curtos), respectivamente, enquanto que podemos realizar o supra referido "lock on" para seleccionar um adversário e ainda segurar um movimento defensivo. Mas não é menos importante a evasão, uma acção que realizada na última fracção de segundo de ataque do inimigo e que o deixa à mercê do nosso contra-golpe. É então que podemos infligir mais dano e até conseguir um golpe especial, quando neutralizamos por completo o seu indicador de saúde. Uma evasão bem sucedida é na maior parte das vezes a chave do sucesso para vencer uma difícil batalha.

Cover image for YouTube videoHyrule Warriors - Trailer de revelação de Ganondorf (Wii U)

Em termos de golpes ofensivos existe também uma grande variedade. Não só porque conseguimos criar combinações devastadoras alternando entre X e Y, consoante tenhamos evoluída a nossa espada através do processo de optimização disponível no bazar, como também temos um conjunto de ataques especiais. Assim, podendo levantar os inimigos e golpeá-los num movimento aéreo, podemos tirar proveito dos items deixados por estes depois de aniquilados. Num caso, quando a barra de magia fica repleta depois de recolhermos os items, podemos activar o "Focus Spirit", muito parecido com o Ultra do Street Fighter IV e que cria uma animação especial para a nossa personagem, ao mesmo tempo que atinge com grande danos os adversários assinalados. Para tal só temos que pressionar o botão R. Em alternativa, existe um golpe especial que resulta da acumulação de danos no adversário. Quando o medidor se encontrar repleto, uma pressão no botão A é suficiente para libertar uma vaga furiosa de golpes. Embora seja possível encher as barras novamente, é preferível utilizar estas acções diante dos "bosses".

O capítulo dos "bosses" é aliás outro ponto muito bem sucedido em Hyrule Warriors. A esmagadora maioria das criaturas oponentes no fim de um mapa são velhos "bosses" dos anteriores Zeldas. Para os derrotarmos teremos de recorrer à fórmula clássica, isto é, utilizando os items que temos à nossa disposição, como bombas, arco, boomerangue, entre muitos outros que vamos coleccionando ao longo da campanha. É neste ponto que Hyrule Warriors revela muito do charme dos jogos Zelda, até com algum exagero humorístico, como o tamanho grande e quantidade quase infindável de bombas, óptimas também para abrir percurso. Mas é interessante experimentar as batalhas clássicas num espaço mais aberto e não confinado a uma arena. Existem imensas criaturas, velhos conhecidos como Ghoma mas também outros adversários de grande imponência. Descobrir a táctica correcta para os derrotar é o maior desafio, enquanto lidamos com outros adversários que teimam em dificultar a tarefa. O grau de exigência aperta nalguns mapas, especialmente quando nos aproximamos do confronto derradeiro. Mas para os fãs de "beat em ups" é melhor começarem por jogar em "hard".

A estreita ligação à fórmula Zelda continua através da disponibilidade de contentores de coração e peças de coração. Além disso, quando cumprirem determinados requisitos terão acesso às Skulltulas, com as quais conseguem desbloquear ilustrações de arte na galeria, podendo visualizar personagens em 3D. Igualmente relevante é a árvore de melhoramento das nossas armas, algo que podemos efectuar no Bazar, usando as rupees como moeda de troca. O "Badge Market" permite criar "badges" que fortalecem os guerreiros a vários níveis. Por outro lado é possível forjar novos materiais usando items obtidos no final das batalhas, no "apothecary". Mas é através da melhoria das armas e inclusão de habilidades espaciais que se alarga o nível de combinações possíveis. O "training Dojo" permite uma subida de nível da personagem, em troco de quantidades razoáveis de rupees.

Hyrule Warriors não oferece um único protagonista. Embora Link seja uma das personagens que todos querem ver e descobrir como se movimenta, há outras a ter em conta, muitas das quais serão até melhor opção. A apresentação e o aspecto de Link é parecida com o mesmo de Soul Calibur, mas assim que controlamos Impa, Sheik encontramos mais variedade de golpes e movimentos. Lana é uma boa novidade e Darunia, juntamente com Midna constituem boas alternativas. A estas juntam-se Fi, Ruto e Ganondorf. Em termos de cenários, há uma imensa variedade. Desde Lake Hylia, Palace of Twilight, Skyloft, Faron Woods e Hyrule Field, tudo transpira a Zelda e até mesmo nas melodias e temas musicais encontramos aquela familiaridade, ainda que remisturados com guitarradas mas que cabem muito bem no estilo de jogo.

Os ambientes sofrem um pouco em termos de pormenor e detalhe mas sempre com uma boa estética.

Em termos de opções de jogo, destaque para o Adventure Mode, no qual o objectivo passar por derrotar o Dark Ruler e salvar Hyrule. É quase um modo alternativo do Legends com a vantagem de podermos escolher qualquer personagem que tenhamos desbloqueado. O mapa mundo é muito similar ao do primeiro Zelda, com aquele aspecto 8-bit mas onde cada quadriculado representa uma batalha. Há items a recuperar, diferentes inimigos e condições de vitória. Uma opção muito segura.

Por fim, sobra ainda o modo galeria e o free mode, ideial para praticar as habilidades de um qualquer lutador que temos à disposição. A única opção online disponível no jogo é relativa ao Adventure Mode e trata-se dos Network Links, onde podemos ver Links dos nossos amigos os quais podemos ajudar entrando em batalhas. As recompensas pelas vitórias são significativas. Existe também uma opção para dois jogadores, podendo o segundo jogador usar o Wii U Pro Controller ou então o Wii Remote e Nunchuk.

Hyrule Warriors forma uma belo tributo à série Zelda. O trabalho conjunto entre a Tecmo Koei e a Nintendo resulta num somatório bastante forte de dois mundos, ao mesmo tempo que é capaz de ir de encontro às expectativas dos fãs, materializando combates com uma fluidez e dimensão impressionantes. É um dos melhores "crossovers", um jogo que não perde nenhuma das suas identidades e que revela um compromisso em chegar com segurança aos fãs das aventuras de Link.

8 / 10

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Hyrule Warriors

Nintendo Wii U, Nintendo 3DS

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Vítor Alexandre

Redator

Adepto de automóveis é assim por direito o nosso piloto de serviço. Mas o Vítor é outro que não falha um bom old school e é adepto ferrenho das novas produções criativas. Para além de que é corredor de Maratona. Mas não esquece os pastéis de Fão.

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