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Watch Dogs e o hype AAA

Voltamos a Chicago 3 meses depois.

O hype pode ser uma coisa bem danada. Seja um álbum de música de uma banda que adoramos (Sonic Highways dos Foo Fighters é algo que nem sei explicar a mim mesmo como me está a fascinar tanto), seja um filme como Os Guardiões da Galáxia ou outro qualquer, o desejo e expectativa em relação a um produto pode tornar-se sufocante antes da sua chegada. Então o que dizer da indústria dos videojogos? Enquanto escrevia este artigo deparei-me com um outro da Forbes que aborda precisamente isso, a forma como as três maiores novas propriedades intelectuais de 2014 parecem partilhar muitas coisas em comum mesmo sendo tão diferentes: a forma como dividiram os que a elas foram expostos e como o hype os parece ter traído.

No caso de Titanfall, a crença que seria algo verdadeiramente inédito e um produto que iria catapultar um dos mais populares géneros da atualidade para novos patamares. As críticas dos fãs foram vincadas e em sentido oposto ao que foi publicitado pela editora, elogiado pelo estúdio e aplaudido pela imprensa especializada. Destiny está a ser alvo de algo similar: aclamado no período pré-lançamento, promessas imensas do estúdio, protegido pela editora e agora os fãs começam a ir em sentido contrário ao que os jornalistas iam antes do jogo chegar às lojas. No entanto, o produto que me levou a escrever este artigo foi Watch Dogs, um jogo lançado a 27 de Maio de 2014 e foi provavelmente o maior exemplo do quão tóxico pode ser o hype.

Numa outra era, quando o acesso à internet era reduzido e as revistas iam ditando a quantidade de informações que se recebia, a sensação que qualquer pessoa que tenha passado a sua adolescência nesses anos será que tudo era mais saudável, a emoção e ansiedade mais crua ou verdadeira. Agora, nesta era de imenso processamento de informação que viaja a uma velocidade incrível, somos bombardeados com imensos elementos que dizem respeito aos jogos que mais desejamos, ao ponto de parecer que já os jogamos sem sequer lhe deitarmos as mãos. Algo que até ainda hoje não percebo são os jogadores do YouTube ou os analistas de jogos via trailers mas foi isso que nos foi dado a acreditar pelas máquinas do marketing: "vê este vídeo e terás completa noção do prazer e experiência que é jogar este jogo!"

Este é um MEGA trailer para a aventura de Aiden.

No entanto é inegável que Watch Dogs foi um verdadeiro ponto de referência nesta indústria que jamais deveria ser esquecido, penso que enquanto jogadores não nos podemos permitir a esse luxo, o de esquecer o que a Ubisoft fez com o jogo. Se assistiram à sua revelação na E3 2012 via live streaming o mais provável é que tenham sentido que estavam perante um momento de viragem nos videojogos, que aquele produto ostentava uma qualidade que era impossível nas então atuais consolas e que nos elevaria a novos patamares de entretenimento, o visual até era o menor dos elementos mas muito importante claro.

Saltando de 2012 para 2014, como referido por Paul Tassi, o futuro passou a ser o hoje (agora é na verdade passado) e quanto mais a Ubisoft falava mais os jogadores ansiavam mas contrariamente quanto mais mostrava mais os jogadores desanimavam. Provavelmente a grande maioria está ainda lembrada da imensa controvérsia do downgrade gráfico e não exactamente do jogo em si. Ao contrário de outrora, a minha tendência pessoal é resistir ao máximo ao hype e em alguns casos prefiro esperar até a procura pelo produto baixar imenso e encontrar preços mais acessíveis. Foi isto que fiz em Watch Dogs, deixei que embarcassem no comboio do hype e depois de todos andarem nele, jogo agora um jogo com cerca de 3 meses que mais parece ter sido lançado há 3 anos. Será que esta viagem tardia a Chicago me ensinou alguma coisa?

Olhando para Watch Dogs com a necessária sobriedade e relembrando o frenesim habitual do período de lançamento, é perfeitamente compreensível perceber porque é que tantos ficaram desiludidos enquanto outros tantos diziam maravilhas. A primeira coisa que comecei a pensar após algumas poucas horas com o jogo foi que de forma alguma representava todo aquele espectáculo de promoção e relações públicas com que nos brindaram, no entanto isso não impede que seja um jogo altamente interessante. Infelizmente não é aquele jogo que nos faz sentir que demos verdadeiramente um salto firme na indústria e que não desfrutamos verdadeiramente deste entretenimento sem um sistema de nova geração. Mas que apresenta ideias bem engraçadas apresenta.

O desânimo inicial fez-me perceber que não estava a avaliar o produto, não estava a ser racional, estava a analisar o hype todo e o que me havia sido sugerido. Quando comecei a desfrutar do jogo pelo que realmente é, comecei a encontrar um jogo minado por pequenas falhas que todas juntas enfraquecem e muito o todo mas que quando funciona como deve ser é incrivelmente único dentro do seu género em específico. Mais ainda fica a sensação que é um produto que dará frutos, cujas melhores mecânicas e funcionalidades serão utilizadas como devem ser no futuro.

Olhando à "distância" para Maio de 2014 (como se tivesse passado tanto tempo!) a sensação é que Watch Dogs não foi criticado pelo que é mas pelo que supostamente deu a entender que seria. Mais parece que estamos a falar de política do que videojogos mas a verdade é que a jornada de Aiden está a revelar-se como um produto diferente que poderia ter beneficiado imenso com melhorias em alguns pontos mas que em nada se deve envergonhar do que oferece. É divertido, incute as suas próprias mecânicas num jogo de mundo aberto e ainda invoca para si um enredo geral altamente interessante (mesmo que depois se perca e que no gameplay não tenha a profundidade que deveria).

Ocasionalmente penso que o jogo teria beneficiado com uma estrutura diferente, por missões/capítulos e não em mundo aberto mas aí não teríamos a liberdade para vaguear por Chicago e personalizar mais a experiência. É o que é, uma nova propriedade intelectual que começa do zero numa indústria cada vez mais agressiva num mundo em crise económica no qual por vezes as editoras recorrem a tácticas não tão transparentes para promoverem os seus jogos e manterem os seus lucros. Maio não está assim tão longe e o erro de Watch Dogs já está a ser repetido, agora com Destiny que é criticado por uns mas elogiado por outros mas a sensação em torno do jogo é claramente diferente da apreciação pré-lançamento.

Claro que também é perfeitamente normal encontrar jogadores que se esforçam em demasiado para proteger os jogos que compram em relação aos que o criticam e se sentem desanimados mas o que sinto é que estou a gostar imenso de estar em Chicago, mesmo que num segundo me deixe interessado e no outro me deixe a encorrilhar a testa. Será que estaremos condenados a repetir os erros? Fugir da polícia enquanto tentamos evitar a procura do Ctos recorrendo a um telemóvel para levantar uma ponte para fugirmos a alta velocidade num topo de gama desportivo é algo que apesar de simples nos deveria emocionar enquanto jogadores, ou estaremos assim tão anestesiados que não mais nos queremos apaixonar pelo que é simples?

Pessoalmente, olho para Watch Dogs como um produto que não soube apresentar um melhor enredo, aproveitamento de personagens e que não soube ainda como utilizar em pleno todas as encantadoras mecânicas do gameplay. Mas que quando funciona como deve ser apresenta-nos um produto dinâmico e cativante. Pena não evitar tantas quebras de imersão. Acreditam tal como eu que o jogo é um produto que vale a pena ser jogado e que o hype deve ser deixado de fora da sala ou que não é possível separar o seu efeito do prazer que retiram de um jogo? Por outro lado teríamos ainda muito para debater sobre como um 7/8 passou a ser visto como um nota menor, ou então que a nota está agora intimamente relacionada com o hype do produto.

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Watch Dogs

PS4, Xbox One, PS3, Xbox 360, Nintendo Wii U, PC

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Bruno Galvão

Redator

O Bruno tem um gosto requintado. Para ele os videojogos são mais que um entretenimento e gosta de discutir sobre formas e arte. Para além disso consome tudo que seja Japonês, principalmente JRPG. Nós só agradecemos.

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