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Será a New 3DS um erro?

Problemas antigos resolvidos, problemas novos criados.

Preparava-me para escrever sobre a chegada da Xbox One a Portugal e do erro gigantesco da Microsoft em adiar o lançamento em metade da Europa e no Japão, quando sou presenteado, a meio da semana, com uma das decisões mais bizarras que algum dia vi a Nintendo tomar: a New 3DS.

Seguiu-se uma montanha-russa de emoções:

Apesar do meu interesse ter desaparecido com a mesma rapidez com que surgiu, há um importante dado a reter: este é um nome de peso exclusivo de uma revisão de hardware, não de uma nova consola.

O que há de novo na New 3DS

A primeira coisa a saltar à vista é o muito desejado segundo analógico. Desde a apresentação do modelo original que a 3DS foi criticada por não ter um, factor que excluía imediatamente FPS e outros géneros que dêem largo uso à rotação da câmera. O Circle Pad Pro não foi suficiente para colmatar essa falha pelo que, agora, o segundo analógico passa a vir incluído na consola.

Além disso, existem dois botões adicionais na parte de trás da consola (elevando o total para oito), o slot para jogos passa para o lado esquerdo, a câmera é melhor, podemos mudar a aparência da consola com faceplates, os botões da frente têm cores e o ecrã de baixo passa a ter integração NFC para os Amiibo, como acontece com a Wii U.

O novo Super Smash Bros. já vai aproveitar as novas funções da New 3DS.

O que não salta logo à vista é o novo poder dentro da pequena máquina. Apesar de ainda não ter sido confirmado pela Nintendo, os rumores apontam para que a New 3DS tenha o dobro da RAM da actual, mais VRAM e um poder de processamento superior. Isto vai permitir melhorar o efeito 3D, outro dos problemas que a maioria dos consumidores aponta às actuais 3DS (de facto, não é grande coisa e raramente o ligo).

No entanto, nenhuma destas novidades foi tão grande quanto o anúncio de jogos exclusivos desta revisão de hardware e a frustração que isso causou aos actuais detentores de uma 3DS.

Quem parte e reparte não vai a parte nenhuma

As revisões de hardware sempre existiram e são especialmente prevalecentes nas consolas portáteis da Nintendo. Só quem é muito verde nestas andanças é que nunca se deparou com o cenário “compro a portátil da Nintendo agora ou espero mais 6 meses pelo anúncio um novo modelo”.

Em 3 anos, a 3DS já leva 3 modelos diferentes no mercado, sendo esta New 3DS o quarto que aí vem. Antes dela, a DS teve a versão base, a Lite, a DSi e a XL, e o GameBoy Advance uma versão base, SP e Micro. O GameBoy original foi a máquina mais “comedida”, com 4 versões lançadas praticamente ao longo de uma década. A última revisão, o GameBoy Color, introduziu tantas melhorias no hardware que o podemos considerar uma verdadeira nova geração de consolas portáteis em tudo menos no nome: o dobro do poder de processamento, o triplo da RAM e ecrã a cores.

As melhorias do GBC tornaram os modelos anteriores obsoletos e foram muitos e muito bons os exclusivos que as aproveitaram.

Com tudo isto, o GameBoy Color dividiu a base instalada de jogadores. A diferença é que, ao contrário do que aconteceu então, enquanto essa base instalada já jogava na mesma máquina há praticamente uma década, a New 3DS vai ser lançada apenas 3 anos depois da original.

"O erro já foi cometido no passado pela SEGA, ao dividir e repartir a base instalada da Mega Drive com a 32X e a Mega CD."

Dividir uma base instalada de mais de 45 milhões de utilizadores construída apenas em 3 anos é um erro tremendo, especialmente numa altura em que a 3DS é a única consola portátil com expressão suficiente para competir com smartphones e tablets pela atenção dos jogadores e dos produtores.

O erro já foi cometido no passado pela SEGA, ao dividir e repartir a base instalada da Mega Drive com a 32X e a Mega CD. Financeiramente, os resultados foram catastróficos e foram muito, muito poucos os jogos lançados exclusivamente para um ou outro sistema/acessório/apêndice. Não quero com isto dizer que, com esta decisão, a Nintendo vá ter o triste destino que teve a SEGA mas acredito que muitas das coisas que aconteceram com a divisão da base instalada da Mega Drive vão repetir-se com a 3DS, a começar pela falta de apoio dos produtores. Não acredito que exista um estúdio que, no seu perfeito juízo, arrisque lançar um título exclusivamente na New 3DS, ignorando completamente as dezenas de milhões de utilizadores do actual hardware da 3DS. A divisão da base instalada já foi testada uma vez com o Circle Pad Pro e contam-se pelos dedos das mãos o número de jogos lançados no ocidente compatível com ele.

Convém acrescentar que com mais poder vêm custos maiores no desenvolvimento de jogos. Ao fim de 2 anos, boa parte dos analistas apontam o excesso de poder como a mais provável falta de apoio third party ocidental na Vita e a Nintendo parece disposta a cometer o mesmo erro.

A Nintendo afirmou existir software exclusivo em desenvolvimento mas estarão assim tantos a ser produzidos por estúdios third party? Não vejo muitos estúdios a arriscar tudo na “nova” plataforma mas, se a Nintendo quiser, a migração para New 3DS pode ser “forçada” com o anúncio de mais exclusivos de peso, tais como o muito aguardado The Legend of Zelda: Majora's Mask 3D ou os ports ocidentais de Dragon Quest VII e X.

A exclusividade de um eventual remake de Majora's Mask iria deixar muita gente chateada.

Há problemas que não desaparecem

Com o anúncio da New 3DS, especulou-se se este seria, finalmente, o modelo que aboliria o incompreensível bloqueio regional, ausente na predecessora Nintendo DS, rumor que foi, entretanto, desmentido. A própria Nintendo tem dificuldades em justificar a sua existência mas a realidade é que, por muito que os jogadores implorem, o bloqueio regional continua a não ser levantado e o ocidente continua sem poder jogar os melhores títulos da consola.

Por este andar, não jogamos Dragon Quest VII em língua nenhuma.

Apesar da Nintendo ter anunciado que a New 3DS iria trazer novidades ao Nintendo Network, ainda nada foi revelado e teme-se que a empresa continue com a mesma política de associar conteúdo digital a hardware em vez de recorrer a contas pessoais. Alguém diga à Nintendo que estamos em 2014 e que já não existe desculpa para que o conteúdo não seja unificado como acontece com, literalmente, qualquer outra plataforma.

"Era de esperar que a Nintendo já tivesse contratado alguém que soubesse dar nomes às coisas."

Por fim, a empresa continua a ser um autêntico prodígio no que toca a dar maus nomes às suas consolas. Wii U ainda hoje causa confusão e 2DS também não foi um nome brilhante (a caixa da consola tem um autocolante a explicar que jogos é que se jogam ali). New 3DS é mais um nome que promete causar confusão entre consumidores menos informados e lágrimas a miúdos que receberem um jogo que diz 3DS na caixa mas que não funciona nas suas 3DSs.

Dois anos depois do lançamento da Wii U e de ver os efeitos que um mau nome pode ter nas vendas de uma consola, era de esperar que a Nintendo já tivesse contratado alguém que soubesse dar nomes às coisas.

Conclusão

Com as mudanças introduzidas no hardware, a New 3DS tem tudo para criar grandes experiências de jogo portátil mas tem também o potencial de arruinar por completo a actual base instalada da consola. Melhorias na bateria, no ecrã ou que tornem a consola mais leve ou ligeiramente mais rápida são sempre bem vindas; revisões de hardware que excluem jogadores com a mesma plataforma, não.

Assumo que não acredito no sucesso da New 3DS enquanto plataforma para títulos exclusivos porque a actual base instalada da consola é demasiado grande e recente para ser ignorada pelos developers. No entanto, se quiser mesmo forçar exclusivos na plataforma, a Nintendo vai acabar por vender muitos milhões de New 3DSs. Será que a confiança de 45 milhões de pessoas vale esse risco?

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Sobre o Autor
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Joel Monteiro

Contributor

Amante de design de videojogos nos poucos tempos livres. Escreve quinzenalmente na Eurogamer Portugal sobre a indústria e criatividade.

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