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Beyond: Duas Almas - Análise

Os altos e baixos de uma vida a dois.

Claro que isto nem sempre é conseguido da melhor forma, o que me leva ao principal problema que tive com a leve interatividade focada nos tais QTE's. Adorei o funcionamento do combate por exemplo, obriga-nos a manter um foco total para perceber para que lado dirigir o analógico sem qualquer indicação de interface, tornando estes momentos credíveis e ampliando o agenciamento com a personagem. Por outro lado, detestei os eventos que requerem o uso do giroscópio, alguns pedem movimentos bruscos com o comando para cima ou para baixo, outros que abanemos mesmo o comando sem parar.

Certos produtores parecem decididos a ignorar que o comando é uma extensão da mente do jogador, quanto mais invisível for a sua presença, melhor. É impossível não me lembrar que estou a jogar quando tenho que me abanar todo, é por isso que os controlos por movimentos não funcionam na maioria dos géneros, quebra o fluxo do gameplay, quebra a sintonia com os acontecimentos, e por isso é simplesmente estúpido.

A interatividade com Aiden é bastante simples, sendo que se limita a certos movimentos com os analógicos para interagir com elementos físicos, controlar mentes mais frágeis ou até curar feridas se Jodie assim desejar. Quase sempre as cenas requerem um trabalho cooperativo entre os dois, mas sem nunca os controlarmos em simultâneo, seria impossível. O que podemos fazer neste campo é descarregar a aplicação para Android e iOS que permite o controlo de Aiden por um segundo jogador, e assim percorrer a aventura cooperativamente.

Beyond: Duas Almas é o mais próximo que os videojogos alguma vez estiveram de uma experiência cinemática. Isto não se deve apenas à presença de Ellen Page ou Willem Dafoe como personagens centrais, mas à própria forma como a câmara se comporta, os ângulos de "filmagem" que mudam de visões amplas para próximas, de trás para a frente, de baixo para cima, sempre com excelentes enquadramentos e jogos de luz.

As muito badaladas animações retiradas das performances dos atores resultaram num número recorde de animações, e tornam a credibilidade e emocionalidade dos segmentos ainda mais fortes e intensas. Não me lembro nunca de sentir movimentos robóticos, ou que estava a fazer outra vez a mesma coisa. A forma como Jodie se comporta é sempre diferente, dependente do modelo com que estamos a jogar e dos acontecimentos na altura.

A qualidade das interpretações é reflectida nos movimentos corporais, mas nas vozes também, e aqui temos a nossa dose de bom Português. A localização de Beyond para Portugal conta com a opção de legendas em Português, mas também uma completa dobragem na língua de Camões, com a presença de atores como Rogério Samora, Joana Santos ou Rui Unas. Pessoalmente julgo que este tipo de iniciativas têm valor para afirmar a nossa língua no meio e oferecer opções mais completas aos consumidores, no entanto, a presença de atores como Ellen Page e Willem Dafoe justificam que joguemos a versão original. Felizmente Beyond é um jogo para várias "playthroughs", e portanto, pelo menos numa delas, a Joana é uma excelente opção.

"A jornada pela vida de Jodie Holmes é um autêntico cocktail de emoções."

A jornada pela vida de Jodie Holmes é um autêntico cocktail de emoções, variando entre cenas profundamente humanas e de vulnerabilidade total, para outras mais fantasiosas. Trouxe-me lágrimas algumas vezes, ainda que nenhum destes momentos tenha sido durante segmentos interativos, fê-lo da mesma forma que uma boa representação num filme o faz, mais um atestado da competência das expressões faciais em Beyond. A música tem um papel importante neste campo também, a vida seria mesmo muito melhor se tivesse banda sonora, e aqui as composições de dois colossos como Hans Zimmer e Lorne Balfe desempenham o seu papel na perfeição.

Depois de jogá-lo, vão sentir-se muito ligados a Jodie, o jogo faz tudo para desenvolver essa ligação emocional com a protagonista. Sofre no entanto de um problema típico do storytelling interativo, que é o uso excessivo da interação passiva ou ligeira. Para que tenho eu que cortar legumes para cozinhar? Claro que o jogo podia simplesmente fazer isso automaticamente, mas não, faz questão que passemos pelos pequenos detalhes, e fá-lo com uma interatividade ligeira e nem sempre com o sentido na narrativa.

Não existe um exagero de ações repetitivas nem nenhum sério bloqueio à progressão, condições fundamentais para um jogo deste género. É o projecto mais conseguido e equilibrado da Quantic Dream até agora, e naquilo a que se propõe, é quase perfeito. Não gostei muito do trama global, talvez a expectativa estivesse demasiado alta, mas adorei cada minuto passado a conhecer um pouco mais sobre Jodie Holmes e Aiden. É facilmente uma das melhores experiências interativas que tive este ano, e tal como Cage disse quando o entrevistei no início do ano, vou "sentir falta dela" agora que o terminei.

9 / 10

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Beyond: Two Souls

PS4, PS3, PC

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Sobre o Autor
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Aníbal Gonçalves

Redator

MMOs e RPG são com o Aníbal. Aliás existe um rumor na redação que a sua primeira casa é o World of Warcraft. Mas às vezes também o vemos a fazer uns exercícios. Não é mau de todo.
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