Skip to main content
Se clicares num link e fizeres uma compra, poderemos receber uma pequena comissão. Lê a nossa política editorial.

Battleship - Análise

Navio afundado.

A Activision é uma das maiores editoras de videojogos no mundo. Da esmagadora maioria de séries e jogos que leva até às lojas, quase todas geram impressionantes lucros. Tocam as preferências dos jogadores e sobretudo são desenvolvidas com tempo e com bastante esforço pelas equipas de produção. Infelizmente há o reverso da medalha e todos os anos, a mesma editora que lança franquias e títulos que conquistam imensos nacos de leão, permite que jogos de duvidosa e pouca qualidade cheguem às grandes lojas, enganando por vezes os mais incautos, principalmente quando está em causa o videojogo baseado no filme.

Já sabemos como funciona este esquema. Encontra-se uma equipa de produção que durante uns meses acompanha o filme, coleciona os principais momentos e depois assenta tudo dentro de um modelo genérico de jogo, que convém, seja dominante, como acontece com os fps ou "shooters" na terceira pessoa. Com Battleship é caso para se dizer o que não deve ter custado à Double Helix fazer um jogo baseado no filme. À partida isto até pode ser aliciante. Só não é porque as premissas de uma invasão alienígena à terra, esquema de batalha naval e comandar soldados como num FPS de ciganos, não foram concretizadas da melhor forma. Isso e as sempre madrastas "dedline" não correram nada bem à produtora que até poderia estar empenhada em acrescentar alguma frescura ao jogo da batalha naval.

Existe uma abordagem interessante no sistema de comando dos navios, embora seja consideravelmente diferente do jogo original. Na prática, a Double Helix optou por criar um jogo que é um misto de fps e rts. O jogador começa por comandar um soldado no terreno com habilidade para várias tarefas; desde desarmar bombas, proceder a auxílios e ativar pontos de energia, até entrar em combate com os alienígenas e servir-se de todo o tipo de armas que encontrar pelo percurso manifestamente linear.

A personagem que irá comandar está numa ilha havaiana quando subitamente irrompe um ataque provocado pelos extra-terrestres. À semelhança do ataque lançado pelos japoneses durante a segunda guerra-mundial à armada americana em Pearl Harbour, aqui o que se distingue é a invasão terrestre e a possibilidade de comando dos navios através de um acessório que permite monitorizar o avanço, a posição dos navios e gerir depois elementos como artilharia, mísseis e comando direto, tudo através através dos "wild cards", pequenos trunfos que têm como intenção aprofundar a batalha naval. No fundo, esta "segunda parte" do jogo destina-se a auxiliar o avanço e recuo das tropas terrestres situadas na ilha perante a ameaça alienígena.

Na parte do fps nada é muito diferente. Aliás tudo é tão banal, que até já não surpreende quando damos conta dos imensos bugs como a arma que nos persegue desde o acampamento situado a metros de distancia da costa até à praia. O grafismo é muito pobre e mais parece que estamos a jogar algum fps do fim da última geração de consolas. A variedade de ambientes é escassa e resumida a uma arquitetura luxuriante paradisíaca exterior previsível nos declives, alternando com secções interiores labirínticas e zonas rochosas. Nada disto é novo e não gera o mínimo de entusiasmo.

O combate não oferece motivos para regozijo, dentro daquilo que pode ser considerado o mais elementar dos fps. Escolhem uma arma abandonada no campo de batalha, que pode ser das tropas inimigas, apontam ao alvo e atingem com sucesso o corpo dos inimigos para seguir na direção do objetivo seguinte. É sempre assim. A linearidade é gritante e não existe mais nada que faça supor que depois de superada aquela rocha ou segura uma zona defensiva, algo de fantástico irá acontecer. Esta é uma caminhada individual, solitária, vagarosa e penosa. Nem a história, atribulada e muito pouco contada, cria qualquer atmosfera de adesão. Não sei se o filme é bom ou mau, ou se dá para passar o tempo. Acredito, porém, poderá ser tempo melhor empregue a ver do que a jogar.

"Com tão poucas opções, com uma história desinteressante, design banal e personagens sem o mínimo de carisma, depressa nos afundamos nesta batalha naval."

O mau registo do jogo tende a dar sinais de mudança quando assumimos o controlo da frota naval à nossa disposição. Estas embarcações de guerra são autênticos monstros de combate e a ideia dos produtores passou por criar um mecanismo similar ao da batalha naval, pondo os barcos dentro de uma grelha. Para aceder à grelha basta premir um botão quando estamos no campo de batalha, em modo fps. Em ecrã virtual depressa nos revela a posição dos barcos. A partir daí podemos selecionar um deles e definir uma nova localização tendo em vista finalidades de apoio às tropas terrestres.

Se estivermos num ponto de contacto com os barcos podemos ver o seu andamento até à localização definida, tudo em tempo real, conseguindo criar deste modo uma atmosfera maior de batalha, ao mesmo tempo que parece articular, com alguma eficácia, gestão e estratégia com combate real. Este esquema esconde, na verdade, algo interessante e que uma vez melhor trabalhado, poderia proporcionar mais algum sucesso. Os inimigos derrotados vão libertando "wild cards" que podem ser usados dentro da vertente estratégica. Isto não é mais do que "power ups" que fazem aumentar o poder de fogo dos navios, armamento, radar, até ao sempre apetecido "Golden Wheel" que serve para manobrar totalmente um barco no confronto com uma outra embarcação, através de salvas de artilharia impressionantes.

Misturar estes dois elementos de jogo é quase como fazer uma mistura explosiva, já que nenhum dos modos é suficientemente apelativo para manter o jogo à superfície. Percebe-se que houve aqui uma tentativa de criar uma ideia e um rumo para o jogo. Tramado pela execução, tempos apertados e poucos valores de produção, Battleship não oferece opções para vários jogadores e a campanha individual, alargada por vários mapas, não vai longe, assim como repetir as missões não pode ser levado a sério como alternativa à campanha. Com tão poucas opções, com uma história desinteressante, design banal e personagens sem o mínimo de carisma, depressa nos afundamos nesta batalha naval.

Este é mais um jogo a contar para a lista dos títulos desinspirados feitos a partir dos filmes. Battleship frustra as expectativas de quem pensava encontrar aqui uma recuperação original a partir da batalha naval, modelo clássico. Mesmo partindo de dois elementos de jogo distintos e aparentemente bem cruzados, rapidamente se afunda uma ilusão de eficácia e fica sempre o lamento de uma oportunidade perdida para fazer algo bem mais convincente. A Activision pensará, no final do dia, se valerá a pena manter a edição de jogos com manifestas amputações de qualidade, mas enquanto tiver outras séries a gerar lucros abissais é provável que este seja um risco a prosseguir.

4 / 10

Read this next