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Professor Layton and the Spectre's Call - Análise

Sessão de ginástica mental.

Eu não creio que o Professor Layton seja snobe. É, outrossim, uma figura educada, civilizada, de boas maneiras, que ocupa o cérebro a deslindar mistérios e a resolver problemas de maior ou menor complexidade. Admirado pela comunidade por essa sagacidade, detém um particular estatuto, mas raramente se serve dele para recolher outro benefício que não seja o bem-estar dos que consigo convivem. A astúcia e perspicácia que normalmente lhe estão associados fazem dele uma personagem itinerante no antro da curiosidade, contagiando os demais, levando-os à resolução de casos que afetam e preocupam povoações. Para Layton não há magia nem truques, tudo tem uma explicação lógica. Por mais difícil que seja um qualquer puzzle, não há nada como o "thrill" da solução.

Herói de cartola que apela à massa cinzenta para completar as aventuras, Layton nunca rejeita um desafio. De trato tipicamente britânico, linguagem a roçar o erudito, fiel a Londres e a uma chávena de chá, também viaja no seu automóvel do género Citroen 2cv em direção a cidades e aldeias mergulhadas em ambientes misteriosos. Faz-se sempre acompanhar dos seus pupilos ou assistentes. Enquanto inspeciona o cenário e talha o problema, descobre problemas e puzzles mais ou menos complexos que exigem toda a concentração do mundo por parte de quem os resolve.

O cerne da personagem não é inédito. Do cinema à literatura policial, encontramos outros agentes de semelhantes facetas, como Poirot, Sherlock Holmes ou Perry Mason. Figuras ficcionais que adquiriram na tela televisiva e no imaginário de muitos leitores um estatuto de ser especialmente habilitado para a resolução de mistérios e intrigas. O faro e instinto, enquanto faculdades especiais que lhes permitem chegar ao fim das suas aventuras sem deixar uma única ponta solta, são postos constantemente à prova. A diferença dos jogos do Professor Layton da Nintendo DS para os filmes e livros é que o jogador não fica relegado para uma posição passiva. Caber-lhe-á resolver os problemas e as situações que Layton e seus assistentes vão descobrindo após mergulharem em mais uma narrativa que esconde ela mesma sucessivos puzzles.

Uma dupla de assistentes

Mérito seja dado por isso à Level-5 que entronizou completamente uma personagem, um estilo narrativo e um bloco de puzzles do mais impressionante que vimos até hoje nos videojogos. Com efeito, Professor Layton and the Spectre's Call é o quarto jogo da série lançado exclusivamente para a Nintendo DS. No Japão o jogo foi lançado em 2009 e logo aí granjeou sucesso. Na Europa a editora reclama mais de 5 milhões de unidades vendidas enquanto que no horizonte perfila-se a próxima aventura para a Nintendo 3DS, na qual esperamos encontrar algo mais inovador.

A adaptação para o mercado europeu implica um grande volume de texto a traduzir do japonês para o inglês, assim como as vozes das personagens, aqui magnificamente interpretadas por atores britânicos, que de imediato conferem uma especial profundidade aos protagonistas. Tal como em Pandora's Box, Curious Village e no ano passado Lost Future, a narrativa volta a assumir um papel central. Este quarto jogo funciona como prequela de Curious Village e revela como Layton conheceu o seu aprendiz Luke, que haveria de se tornar no seu principal assistente. Aliás, Spectre's Call arranca quando Layton recebe uma carta, aparentemente de um antigo colega de universidade, que lhe revela existir na cidade de Misthallery um gigante espectro que está a destruir a cidade. Para além disso o nosso professor fica a saber que esta figura terá sido despertada após escavações realizadas num local especial dessa cidade. Ele surge durante a noite, em diferentes locais, após se escutar aquele que parece ser o som de uma flauta.

Emmy será a primeira assistente de Layton. Determinada e de espírito similar ao do nosso protagonista, vê-los-emos ocupados durante os primeiros capítulos, até Luke entrar e formar a dupla de assistentes de Layton. Spectre's Call é um jogo bem conseguido em termos narrativos, como aliás já sucedera anteriormente. É verdade que a estrutura é toda ela similar à dos jogos anteriores, mas o motivo de um novo arco argumentativo faz desta uma aventura imprescindível e um caso que não conseguimos realmente largar enquanto não desvendarmos todos os factos.

As sequências animadas ocupam parte significativa do argumento e retomam uma muito feliz tradição da Level-5 para a série. Dentro de um estilo típico da animação japonesa, lembrando filmes da Ghibli, esse traço peculiar adquire uma particular ênfase na construção das personagens e ambientes de jogo.

O espectro de Misthalery

Misthalery é o epicentro geográfico desta aventura. Uma cidade preenchida em tons de verde envolta numa misteriosa bruma que aguça a curiosidade das personagens. É um local particularmente atrativo, com zonas de maior densidade urbana em contraste com parques urbanos e encostas com bastantes edifícios. O que temos para lá das sequências animadas é pois um estilo gráfico típico de animação ao nível do que vimos em jogos anteriores.

A dualidade de ecrãs garante assim diferentes imagens ou uma impressão mais alargada do cenário, mas o melhor é que para lá dos balões de diálogo das personagens, somos mais uma vez impelidos a tocar em pontos do cenário, interagindo com ele para encontrar moedas que funcionam como pistas para resolver os puzzles. Normalmente há três moedas por cada área percorrida pelo trio. Mas se continuarmos a tocar no ecrã descobrimos também puzzles secretos e alguns objetos imprescindíveis para os mini-jogos construídos para esta aventura. Além disso podemos ler ainda comentários que as personagens tecem sobre objetos e particularidades do cenário, dando mais algum corpo ao argumento.

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Vítor Alexandre

Redator

Adepto de automóveis é assim por direito o nosso piloto de serviço. Mas o Vítor é outro que não falha um bom old school e é adepto ferrenho das novas produções criativas. Para além de que é corredor de Maratona. Mas não esquece os pastéis de Fão.

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