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L.A. Noire

Estrela branca, cidade noire.

Nas cerca de 19 horas necessárias para terminar a história, algo que equivale a cerca de 75% do total do jogo, Cole não vai só guiar pelas ruas de Los Angeles. Cole vai começar a contribuir para uma cidade mais segura através da sua alta astúcia para investigar zonas de crime, interpretar pistas, questionar testemunhas e interrogar suspeitos. Tudo isto são tarefas que o jogador vai ter que cumprir para desvendar os mistérios que envolvem cada caso e todas elas representam elementos distintos da jogabilidade deste título. Tudo é feito de forma altamente intuitivo e simples. A música entra em ação indicando quando estamos dentro de uma área de investigação e termina quando todas as pistas são encontradas. Sempre que estamos perto de um objeto com o qual podemos interagir, o comando vibra e indica algo que pode ter interesse.

A procura por pistas é algo que se torna fascinante nas fases iniciais do jogo mas após dez horas de um processo que pouco faz para se desenvolver, a capacidade para nos fascinar é substituída por uma monótona obrigatoriedade em cumprir processos. Este é mesmo um dos maiores problemas com L.A. Noire, entra de rompante e mantém um bom ritmo até que o jogador perceba que vai passar as próximas 14 horas a fazer o mesmo após o mesmo. A sensação que a Team Bondi nos quis levar pela mão parece ser maior do que acreditar que são sacrifícios necessários para manter a estrutura de jogo desejada. Se para encontrar pistas é tão fácil como correr pelos locais à espera que o comando vibre, começamos a sentir que o estúdio não nos quis desafiar mas antes ensinar como passar as próximas horas de jogo.

A Rockstar dá ajudas mas os interrogatórios são uma espécie de quebra-cabeças interessante.

Quando perante um objeto de interesse, Cole toma notas e quando é preciso questiona testemunhas e pessoas de interesse para o caso. Com as pistas fornecidas temos que abordar os interrogatórios e questionários com astúcia, sendo eles próprios espécies de mini-jogos no qual a tecnologia visual é colocada num pedestal. Isto porque temos três possibilidades de dar seguimento às respostas que temos mas só uma delas é a correta e os comportamentos dos interrogados é algo obrigatório de ver e a sua qualidade é incrível. Novamente aqui a Team Bondi mostra que tudo é demasiado rígido e mesmo com reações incorretas ao que nos respondem, a sensação é que tudo iria dar ao resultado final, fosse de que forma fosse. Tendo em conta que acima de tudo pretende-se contar uma história, é algo que pode não ser assim tão mau mas sem dúvida que retira sensação de "peso" ao jogador e reforça a ideia de série interativa. Uma balança tão difícil de equilibrar em produtos que enveredam por contornos similares.

Ao subir de nível o jogador ganha pontos de intuição que lhe permite consultar as escolhas da comunidade ou então eliminar uma das três possibilidades. Cole pode acreditar na pessoa, pode-a colocar em questão ou então pode-a acusar de estar a mentir. Aqui vai ter que apresentar provas da mentira ou provas que exponham as contradições nas declarações. São momentos altamente interessantes e envolventes, conseguem até imprimir algum, bem-vindo, nervosismo pois faz-nos sentir que tudo pode depender da forma como reagimos, ou assim o desejaríamos. A lei nem sempre segue em linha reta e neste caricato mundo nem tudo é tão claro quanto preto e branco. No entanto, uma vez que o jogo não nos permite avançar sem ter pelo menos as provas básicas para o caso, e consequentemente para o interrogatório, não existe forma do jogador "desafiar" o jogo e procurar formas alternativas de abordar os suspeitos. Algo que elimina praticamente grande parte do valor que poderia surgir do repetir dos casos. Aqui só mesmo a procura por melhor pontuação pode apelar a tal.

Agora preciso romper com o que escrevi no início da análise para fazer uma breve confissão. A razão definitiva que me levou a comprar L.A. Noire sem quaisquer reservas foi quando a Rockstar começou de forma genial a promover a banda sonora do jogo. Mais do que o talento de Andrew Hale a cargo dos brilhantes temas originais, a colaboração com a Verve Records para remisturar alguns dos grandes clássicos da década descrita no jogo foi como um bilhete para uma terra fascinante. Todo o trabalho no áudio em L.A. Noire é de referência e se as brilhantes interpretações dos atores são de aclamar, a banda sonora é do melhor que já ouvi. Bem característico da Rockstar e um dado adquirido ao comprar um produto desta companhia. Pobre Parov Stelar já estava farto de enviar o seu som pelas colunas aqui em casa até que o talento em L.A. Noire fez com que tivesse uma companhia de alto nível.

L.A. Noire tem uns visuais espantosos e uma cidade que nos envolve.

Se pretendem um doce complemento visual ao trabalho auditivo, então na Rockstar podem confiar, e na Team Bondi. A badalada tecnologia Motion Scan cumpre com incríveis resultados e as personagens do jogo ganham faces com uma expressividade simplesmente inacreditável. Se como um todo L.A. Noire é visualmente um jogo robusto e bem seguro de si mesmo, nos interrogatórios e em algumas cenas relacionadas com a investigação alcança um tom próprio e muito digno. A representação da cidade é altamente credível, impressionante por vezes, e apesar de em alguns momentos se sentir que não tem tanta vida quanto se desejaria, a verdade é que em termos visuais L.A. Noire tem pouco que se lhe aponte e aqui todos vão ficar rendidos.

No final do dia L.A. Noire é um jogo que segue à risca o que agora parece ter chão para poder ser descrito como a forma de trabalhar de Brian McNamara. Demasiado focado no enredo, sem grandes distrações secundárias, nem sequer casos, e rígido com o jogador para que este não fuja demasiado da forma como pretendem que o jogo corra. As personagens são interessantes mas não memoráveis e enquanto algumas linhas de história cativam, custa um pouco para a trama arrancar e fazer o jogador sentir que tudo estava interligado e não ia surgindo ao acaso. Mesmo assim não deixa de apresentar um ambiente fascinante, momentos no enredo de excelência, componente visual e sonora de topo, e também se coloca numa era não muito visitada.

L.A. Noire é um jogo espantoso, poderia-o ser mais, e com uma personalidade tão distinta é difícil não cativar quem nesta cidade ousar entrar. É, por enquanto, algo único na indústria e apesar de cumprir com os requisitos a que se propôs, existia um meio-termo que lhe poderia ter sido mais satisfatório. Uma estrutura não tão rígida e uma maior abertura de Cole, e do jogador, ao mundo e um maior olhar sobre a sua vida nesta Los Angeles, nem que na forma de mais personagens e tarefas extra enredo, teriam elevado a experiência a outros patamares. É um jogo que não se preocupou em ser exatamente o que é, mesmo que isso não seja o que a maioria dos jogadores vai estar à espera.

8 / 10

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L.A. Noire

PS4, Xbox One, PS3, Xbox 360, Nintendo Switch

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Bruno Galvão

Redator

O Bruno tem um gosto requintado. Para ele os videojogos são mais que um entretenimento e gosta de discutir sobre formas e arte. Para além disso consome tudo que seja Japonês, principalmente JRPG. Nós só agradecemos.

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